O que realmente está por trás das postagens mais absurdas que vemos todos os dias online?

Vivemos imersos nas redes sociais, bombardeados por posts e tendências absurdas, reels, e quem mais tiver que coloque. Alguns deles parecem criados de propósito para dividir, gerar discussão e inflamar os comentários. Mas por quê? De onde vem essa necessidade quase compulsiva de publicar provocações cada vez mais ousadas nas redes sociais? O fenômeno é mais profundo do que parece. E não somos nós do Il Bosone que dizemos isso: existem teorias sociológicas que ajudam a focar no que acontece por trás da tela.

Conteúdos extremos nas redes sociais: por que atraem tanto?

Na era digital, tudo gira em torno de uma única moeda: a atenção, que continua a diminuir devido aos modelos de IA, aumentando nossa preguiça. É nessa lógica que se baseia uma parte considerável do sucesso dos conteúdos extremos nas redes sociais. Não importa se agradam ou indignam: o importante é que se fale deles, se comente, se compartilhe. Mas isso é apenas a superfície.

Nas redes sociais, vence quem grita mais alto. Os conteúdos provocativos são recompensados com visibilidade porque geram interações. Quem produz conteúdos virais sabe bem disso: indignação, espanto e choque são potentes ímãs para o olhar. Em um mar de posts, o conteúdo que escandaliza tem uma vantagem a mais. E nem precisa ser autêntico: o efeito vem antes da verdade.

Guy Debord, com sua ideia de “sociedade do espetáculo”, já havia intuído tudo: vivemos em um mundo onde a aparência importa mais do que a substância. O espetáculo se tornou a nova linguagem social, e cada post extremo é uma performance.

Nikocado Avocado, criador de conteúdo que engordou 100 kg nas redes sociais pela visibilidade
Um dos exemplos mais marcantes de conteúdo extremo: o binge eating ao vivo

Os feeds das redes sociais não são neutros. Os algoritmos recompensam o que mantém as pessoas grudadas na tela, e muitas vezes isso coincide com conteúdos polarizantes. Quanto mais um post divide, mais ele aparece no topo. Na prática, as plataformas não apenas hospedam conteúdos extremos, mas os impulsionam ativamente.

Seria necessário abrir um parêntese sobre a linguagem dos políticos nesse sentido, mas não é este o lugar.

Em suma, não é um erro do sistema: é o próprio sistema que funciona assim.

Com milhões de usuários competindo por um momento de atenção, destacar-se se tornou uma necessidade. Daí nasce a corrida pela provocação. Cada post extremo é uma candidatura para ser notado, seguido ou até mesmo para aparecer em alguma captura de tela viral. E quando a aprovação social se torna a medida do próprio valor, a exageração é apenas um meio entre muitos.

Como chegamos a isso? Antigamente, jornais e TV tinham redações, diretores, filtros editoriais. Hoje basta um smartphone para publicar qualquer coisa, e o público é muitas vezes mais rápido que os controles. Os conteúdos extremos nas redes sociais se espalham antes que alguém possa verificá-los, e quando chegam as desmentidas, já é tarde demais: o impacto já foi feito, a poeira levantada.

@averycyrus

Brb gotta go get my stomach pumped 🤪♬ original sound – Avery Cyrus

Basta pensar na quantidade de fake news que nos inundam, por trás das quais há um mecanismo psicológico bem específico. A esse respeito, Jean Baudrillard nos leva ao território da hiper-realidade, onde as fronteiras entre verdadeiro e falso se dissolvem. Os conteúdos extremos se tornam simulacros: cópias sem original, criadas apenas para existir e alimentar outra ficção.

Por fim, há que se analisar a própria palavra: “social”. Como tal, essas criam micro-comunidades em que o extremo se torna um sinal de pertencimento. Quanto mais divisivo é um conteúdo, mais ele fortalece o grupo. Quem publica provocações muitas vezes não busca o diálogo, mas a aprovação de um nicho que compartilha o mesmo código. E quanto mais esse código é extremo, mais o grupo se sente “unido contra o resto do mundo”.

Zygmunt Bauman, nesse sentido, falava de “modernidade líquida”: identidades cada vez mais instáveis, que buscam validação em cada canto digital. A provocação se torna uma forma de se afirmar, mesmo que apenas por um momento.

A questão não é apenas perguntar “Por que os criadores de conteúdo fazem isso?”, mas também “Por que funciona tão bem em nós?”. No fundo, talvez, o que nos incomoda é que ao olhar para esses conteúdos… também vemos algo de nós mesmos.

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